Já foi dito: "Não apagues a tua tocha, pois pode ser a luz que vai iluminar as gerações futuras."
Djelal eddin Rumi


quarta-feira, 28 de outubro de 2015

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

CONTO É A FORMA MAIS DIFÍCIL DE ESCREVER — Truman Capote

Um entrevistador perguntou a Truman Capote o que ele tinha escrito no início da carreira.
"Contos", ele respondeu. "E minhas ambições mais inabaláveis ainda giram em torno desta forma. Quando seriamente explorado, o conto me parece a forma existente mais difícil e disciplinadora de escrever prosa. Qualquer técnica ou controle que eu possa ter, devo isso inteiramente a meu treinamento neste gênero."

sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

AOS NASCIDOS SOB A TERNURA DE AQUÁRIO — Thiago de Mello

AQUÁRIO

Aos nascidos sob a ternura de Aquário
está destinado um grande serviço
à causa da alegria geral.
São assim os seres de Aquário,
o coração cheio de navios,
avançam de perfil, iluminados.
A partir das primeiras chuvas do inverno
belezas imprevistas surgirão nas ruas,
construídas pelas mãos aquarianas,
e uma inesperada flama
arderá no teu peito fatigado.
Os homens de ciência se aproximarão perigosamente
do grande descobrimento que o mundo ainda espera.
Vejo intensos espasmos de medo
no pâncreas dos poderosos.

Tuas virtudes secretas
estarão em maior evidência e poderio
durante a primavera.
O teu instante supremo coincidirá
com a colheita das framboesas.
Aproveita teu momento,
antes que Urano te esconda das estrelas.

Anima-te, companheiro,
lança ao mar a rosa murcha
que levas na lapela
e recomeça a cantar,
os braços abertos,
essa canção de amor
que escondes no teu peito;
porque tens vergonha de mostrá-la,
ou porventura medo.

E não te esqueças de que, sozinho,
jamais chegarás ao outro lado do mar.

Thiago de Mello, Horóscopo Para Os Que Estão Vivos.

terça-feira, 20 de janeiro de 2015

A MAIORIA NUNCA LÊ ALGO DUAS VEZES — C. S. Lewis

C. S. Lewis escreveu As Crônicas de Nárnia, entre outras obras.

A MINORIA E A MAIORIA [Excertos]

A maioria nunca lê algo duas vezes. O signo inequívoco de que alguém carece de sensibilidade literária consiste em que, para essa pessoa, a frase "Já li" é um argumento inapelável contra a leitura de determinado livro. Por outro lado, quem gosta das grandes obras lê um mesmo livro dez, vinte ou trinta vezes ao longo da vida.

Embora dentro da maioria existam leitores habituais, estes não apreciam particularmente a leitura. Só recorrem a ela em última instância. Abandonam-na com presteza tão logo descobrem outra maneira de passar o tempo. Reservam-na para as viagens de trem, para as enfermidades, para os raros momentos de solidão obrigatória, ou para a atividade que consiste em "ler algo para conciliar o sono". Às vezes a combinam com uma conversa sobre outro tema, ou com a audição do rádio. Por outro lado, as pessoas com sensibilidade literária estão sempre em busca de tempo e silêncio para entregar-se à leitura, e concentram nela toda a atenção. Se, ainda que apenas por uns dias, essa leitura atenta e sem perturbações lhes é vedada, sentem-se empobrecidos.

Para esse tipo de pessoas, a primeira leitura de uma obra literária costuma ser uma experiência tão transcendental que só admite comparação com as experiências do amor, da religião ou do luto. Sua consciência sofre uma transformação muito profunda. Já não são as mesmas. Por outro lado, os outros leitores não parecem experimentar nada semelhante. Quando terminam a leitura de um conto ou um romance, não parece que no total lhes tenha sucedido algo mais significativo.

Como resultado natural de suas diferentes maneiras de ler, a minoria conserva uma lembrança constante e nítida do que leu, enquanto a maioria não volta a pensar nisso*. No primeiro caso, os leitores gostam de repetir, quando estão sós, seus versos e estrofes favoritos. Os episódios e personagens dos livros lhes proporcionam uma espécie de iconografia de que se valem para interpretar e resumir suas próprias experiências. Costumam dedicar bastante tempo a comentar com outros suas leituras. Por outro lado, os outros leitores raramente pensam nos livros que leram e nunca falam sobre eles.

C. S. Lewis, A Experiência de Ler

* Isso não se aplica a Montaigne, que não pode ser acusado de ser um leitor comum, embora tivesse péssima memória de suas leituras.

quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

O LIVRO — Jorge Luís Borges

Dos diversos instrumentos do homem, o mais assombroso, sem dúvida, é o livro. Os demais são extensões de seu corpo. O microscópio, o telescópio, são extensões de sua vista; o telefone é extensão da voz; depois temos o arado e a espada, extensões de seu braço. Mas o livro é outra coisa: o livro é uma extensão da memória e da imaginação.
Em César e Cleópatra, de Shaw, quando se fala da biblioteca de Alexandria diz-se que ela é a memória da humanidade. O livro é isso, e é também outra coisa: a imaginação. Pois o que é nosso passado senão uma série de sonhos? Que diferença pode haver entre recordar sonhos e recordar o passado? Essa é a função realizada pelo livro.

Jorge Luís Borges, O Livro, in Borges, Oral e Sete Noites.
Companhia das Letras, 2011.