Nina de Souza-Lima - 2018, Versível, Retrato da Poeta |
A pintura de Nina de Souza-Lima baseia-se em princípios simples, para
atingir resultados mágicos.
O que logo chama a atenção do espectador é sua
pincelada característica, que muitos — por desconhecimento ou superficialidade
— tentam aproximar do Divisionismo, ou Pontilhismo, como dizem. Mas Seurat e
Signac foram os primeiros a se opor ao uso da palavra pontilhismo para definir
o que faziam.
Porque a característica principal da pintura de Seurat e Signac
consistia em seu emprego da mistura ótica, ou divisão dos tons, para obter uma
cor inexistente, ou existente apenas no olho do espectador. Essa divisão dos
tons termina por produzir cores pardacentas, quando é seguida com rigor, já que
a justaposição de um azul e de um amarelo não resulta num verde. Além disso,
Seurat e Signac utilizavam uma variedade de marcas sobre a superfície da tela,
não apenas pontos.
A pincelada de Nina de Souza-Lima guarda uma relação longínqua com a
técnica dos mosaicos.
O mosaico, quando utiliza pequenos pedaços coloridos de vidro ou
cerâmica ou pedra, é considerado um tipo de pintura. Daí que tantos pintores,
por sua vez, recorram com suas pinceladas à imitação das tesselas.
Um ótimo
exemplo disso pode ser encontrado em pinturas de Signac, no jovem Delaunay, no
Matisse de Joie de Vivre, e em Jeune Fille Au Chapeau Rose, 1907, de
Jean Metzinger.
Jean Metzinger - 1907, Jeune Fille Au Chapeau Rose |
Metzinger fez nessa obra questão de seguir à risca a técnica
dos mosaicistas, aplicando suas largas pinceladas quadradas uma ao lado da
outra, com regularidade, ao longo dos contornos.
Nina de
Souza-Lima aplica suas pinceladas sem a limitação de um sistema. Seu guia — sua
varinha mágica — é sua imaginação poderosa. Sua pincelada casa-se com o motivo,
criando uma unidade estética original, destituída de qualquer suspeita de
banalidade, e "imune aos constrangimentos da convenção", para
empregar as palavras de Franz Marc.
Ela também não
se limita às marcas redondas, mas isso não impede que suas pinceladas
constituam outras formas de ponto. Pois como escreveu Kandinsky:
Em sua forma real, o ponto pode adquirir um número
infinito de aparências: à sua forma circular podem acrescentar-se pequenos
recortes, pode tender a outras formas, geométricas ou mesmo livres. Pode ser
pontudo e se aproximar do triângulo. Por uma tendência a uma relativa imobilidade,
ele se faz quadrado.
E termina o parágrafo com o conceito lapidar: "Não podemos definir
limites, o domínio dos pontos é ilimitado”.
Outro aspecto
importante da obra de Nina de Souza-Lima consiste em sua temática. Ela se
dedica à figura humana, com foco nas mulheres e nas crianças, em suas
atividades lúdicas e de trabalho. Seu grande senso de composição, aliado à
técnica refinada, dão à pintura de Nina de Souza-Lima um alcance humanístico
profundo. Prova disso é que sua obra A Moça do Brinco Dourado foi selecionada e
adquirida na 2ª Bienal do SESC DF.
Nina de Souza-Lima - 2017, Moça do Brinco Dourado |
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